EDIÇÃO EM HOMENAGEM À ETNOMUSICÓLOGA E MUSICISTA EMÍLIA BIANCARDI
DIREÇÃO ARTÍSTICA - LEONARDO REIS/ MEDIADOR - JORGE SACRAMENTO
CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR - LARGO PEDRO ARCANJO
DE 08 A 11 DE SETEMBRO DE 2009 - ENTRADA FRANCA







TERÇA-FEIRA, 8 DE SETEMBRO

Projeto Tudo é Percussão 2 levou centenas de pessoas ao Pelourinho.

O coral Vozes Reveladas, a pesquisadora, etnomusicóloga e homenageada do evento, Emília Biancardi, o baterista Kiko Freitas e a Orkestra Rumpilezz foram os destaques do primeiro dia

Não importa se baiana ou brasileira, a percussão está bombeando de ritmo e musicalidade o coração do Centro Histórico de Salvador! É o projeto Tudo é Percussão 2, que começou ontem (8), no largo Pedro Archanjo, no Pelourinho. Centenas de pessoas foram conferir a abertura do encontro que promete reunir, até sexta-feira (11), alguns dos maiores percussionistas do país em workshops e shows inesquecíveis. O evento gratuito é uma realização do Programa Pelourinho Cultural, dirigido por Ivanna Soutto, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

Quem chega ao Largo Pedro Archanjo, logo na entrada, já é transportado para o universo percussivo através de fotos da edição anterior do projeto, que estão afixadas na Galeria do largo. No local onde ocorrem os shows e workshops, círculos coloridos suspensos no teto dão um tom todo especial, remetendo às peles dos instrumentos. Um ambiente intimista com tapetes e sofás completa a decoração de um dos maiores eventos percussivos do país.

O público já ocupava todos os espaços do Largo Pedro Archanjo quando o coral Vozes Reveladas, regido pelo maestro Sérgio Souto, subiu ao palco ao som de palmas, pisadas e gritos, o que proporcionou um espetáculo percussivo bem particular. Sob forte influência da música africana, Vozes Reveladas abriu a apresentação com o “Hino do Congresso Nacional da África”. Em seguida, o coral cantou duas canções da trilha sonora do filme “Sarafina”, estrelado por Whoopi Goldberg. Sérgio Souto seguiu em seu “tributo à afrodescendência”, como ele próprio mencionou, e brindou o público com música cubana e o clássico “Soy Loco por ti América”, de Gilberto Gil. Houve espaço, até, para um pot-pourri do Ilê Aiyê que, segundo Souto, é um dos maiores grupos do movimento negro do país.

O maestro Sérgio Souto elogiou a iniciativa do Tudo é Percussão 2. “É com uma felicidade imensa que eu participo desta segunda edição. Se engana quem pensa que a música baiana é limitada. Dentre todos os elementos da nossa música, o ritmo é o que mais me seduz”, afirma Souto. “O ritmo é absolutamente poderoso e consegue mexer sem pedir permissão, causando emoções muito fortes na gente”, completa.

A mediação dos debates e workshops ficou por conta de Jorge Sacramento, professor de Percussão da Universidade Federal da Bahia, e Waltinho Cruz, consagrado percussionista do Chiclete com Banana. “Temos que nos sentir privilegiados, pois a Bahia não é só batuque. Tem muita coisa boa nesta nossa terra. Este é um evento nosso, da Bahia para a Bahia, e nós merecemos coisas grandiosas como esta”, elogiou Waltinho, antes de chamar ao palco a homenageada do evento, a etnomusicóloga Emília Biancardi.

Emília apresentou ao público instrumentos primitivos construídos na sua oficina, como um tambor feito com uma tora de madeira e instrumentos monocórdicos, como berimbaus de bacia, de lata e de pressão. “Em todo o mundo, quem melhor toca e com mais criatividade os instrumentos monocórdicos é o brasileiro”, revela a pesquisadora Biancardi.

Em seguida, seus alunos subiram no palco para apresentar e tocar instrumentos folclóricos, como penicos, bacias e frigideiras presas ao corpo.
Emília deu uma aula sobre a raiz percussiva baiana, que tem origem nos sembas angolanos e nos batuques, que iniciaram através das batidas no próprio corpo e em objetos do dia-dia, como pratos e talheres.

Sobre estar sendo homenageada nesta segunda edição do Tudo é Percussão, Emília afirma que se sente honrada por se tratar de um projeto de alto nível. “Fui a primeira pessoa na Bahia a trabalhar com esse tipo de percussão, no Colégio Severino Vieira, em 1962, quando criei a Orquestra Afo-Baiana e era professora de música. Naquela época, o percussivo usado nesse nosso trabalho era o que hoje é chamado de instrumentos musicais alternativos”, conta Emília Biancardi, que foi a professora de grandes nomes da percussão baiana, como Waltinho Cruz.

Emília revela que a edição deste ano superou as suas expectativas. “É um projeto único”, disse. “A pessoa que o idealizou tem muita sensibilidade. Estamos vivendo um momento único para a Bahia e principalmente para o Pelourinho”, disse sobre o Tudo é Percussão – que foi idealizado pelo percussionista Leonardo Reis em parceria com o Pelourinho Cultural.

O som dos instrumentos alternativos de percussão deu lugar às batidas virtuosas e criativas do baterista gaúcho de jazz, Kiko Freitas. Em seu workshop, o músico respondeu às perguntas do público sobre ritmo, técnica, improvisação, concentração e as influências mais marcantes no início de sua carreira. Em seguida, fez uma belíssima demonstração solo que contagiou o público. “Esta iniciativa para a comunidade do Pelourinho é fundamental e de uma beleza muito grande”, afirmou Kiko Freitas.

Após presentear o público com o seu vasto repertório rítmico, o projeto Tudo é Percussão 2 ofereceu a Kiko Freitas uma demonstração de jovens talentos da percussão baiana no set montado pela Contemporânea, fábrica de instrumentos de São Paulo que está apoiando o evento.

Para fechar a noite de abertura em grande estilo, a Orkestra Rumpilezz, do maestro Letieres Leite, apresentou a sua consagrada mistura de percussão africana com o som marcante e jazzístico dos instrumentos de sopro. “Apresentamos o conceito Rumpilezz, através da conexão de nossas músicas com o ritmo, demonstrando cada clave e o seu resultado final na composição”, disse o maestro.

O projeto Tudo é Percussão 2 continua até a próxima sexta-feira, dia 11 de setembro, com shows e workshops sobre o universo percussivo baiano e brasileiro, no Largo Pedro Archanjo, a partir das 14h. A entrada é franca.